terça-feira, 13 de agosto de 2013


                    
                      CLUBE DOS SOBREVIVENTES

Qual é o limite máximo que devemos suportar? Até onde devemos prosseguir, insistir, tentar?  Quanto de dor, quanto de confusão, uma pessoa pode, ou deve, aguentar antes de pedir socorro, antes de jogar tudo para o alto, antes de buscar outros caminhos, jogar a toalha e dizer: não consigo mais?

A teimosia pode ser vista como uma vantagem porque a pessoa se levanta, a cada tombo, e segue em frente, mesmo que esteja caindo aos pedaços. Por outro lado, teimosos podem ser vistos como pessoas que perderam o momento de sair do trem antes dele se espatifar. Ou pessoas que se prenderam demais a situações que já não davam pé. Quem tem razão? Quem está certo? O teimoso que não desiste ou aquela pessoa que muda os planos diante da primeira adversidade?

Sinceramente? Eu não sei a resposta e precisaria de muitos espelhos mágicos para chegar a um consenso, a um conselho que valesse a pena ser ouvido. Sou do reino dos teimosos. Não desisto fácil, mas percebo que, muitas vezes, perco o ponto da hora certa de desistir. Como se tudo ficasse embaçado demais e todas as referências se misturassem. Nesses momentos, faço um voo às cegas, nada de instrumentos, nada de voz da torre.  Apenas a velocidade no máximo, sem nada ver pela frente, e uma certeza: a qualquer instante, vou bater. Como consegui me manter viva até agora,  considero que no último instante sempre invento alguma solução e os instrumentos voltam a me dar as coordenadas, a voz da torre aparece, e é possível pousar em segurança, ou com menos danos possíveis.

Um livro muito interessante, que se propõe a contar os “segredos de quem escapou de situações-limite e como eles podem salvar a sua vida”, é o “Clube dos Sobreviventes”, do jornalista norte-americano Ben Sherwood, também autor do beste seller “Morte e vida de Charlie St. Cloud”.

O autor entrevistou pessoas que estiveram muito próximas da morte, além de psicólogos e peritos de diversas áreas, e ele mesmo fez treinamentos militares e cursos sobre acidentes de avião. Tudo para tentar responder às perguntas: “por que algumas pessoas vivem e outras morrem? Como é que algumas pessoas sobrevivem aos mais difíceis desafios e outras, não? Por que alguns se recuperam das adversidades enquanto outros desabam e se entregam?  Os casos contados em “Clube dos Sobreviventes” são histórias de pessoas comuns que se reergueram depois de situações extremamente difíceis, desde ter uma agulha de tricô fincada por acidente no coração, a ser derrubado da bicicleta, atropelado, e esmagado, por um caminhão, ou ser uma mulher de 66 quilos capaz de erguer um carro de 1,5 tonelada para salvar a vida do filho.

Diz o autor Ben Sherwood que há 3 regras para a sobrevivência: “Todo mundo é um sobrevivente, nem tudo é relativo e você é mais forte do que imagina”. Ele segue nos contando sobre a magia do número 3, segundo um curso de sobrevivência da Força Aérea dos EUA. A regra do 3 determina que NÃO se pode sobreviver: 3 minutos sem ar, 3 horas sem abrigo em condições extremas, 3 dias sem água, 3 semanas sem comida, 3 meses sem companhia ou amor e, especialmente, não sobrevivemos nem 3 segundos se não tivermos coragem e esperança. Aí entra o começo da nossa conversa sobre ser teimoso ou não, insistir ou não. Podemos entregar tudo, menos nossa coragem e esperança. Querem nossos bens? Querem nosso dinheiro? Querem nossa dignidade? 

Vamos entregando, negociando, retendo o que for possível e soltando o que mais nos pesa do que ajuda. Mas, precisamos ser teimosos ao extremo para não perdermos a coragem e a esperança. Tanto faz se você está debaixo das rodas de um caminhão ou na beirada de um desfiladeiro emocional. Os medos são os mesmos: vamos sobreviver? Perguntar se haverá amanhã depois de quase congelar escalando uma montanha equivale à mesma ansiedade para quem se pergunta se haverá amanhã depois daquele trauma, daquela dor que parece além do possível. E se você está vivo, lendo o final deste artigo, é um sobrevivente: filho, neto e bisneto de outros sobreviventes. Se você está em pé até agora significa que ainda não ficou 3 segundos sem coragem e esperança. Ótimo. Com essas duas qualidades você pode preencher os outros itens da tabelinha mágica do número 3. As crises são inevitáveis. Elas virão mais cedo ou mais tarde porque estamos vivos e isso faz parte do aprendizado. E quando a pior delas vier não se esqueça de manter, a cada 3 segundos, sua coragem e esperança.

Ana Cardilho

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